
Lucia não se sente muito bem com o seu corpo, gostaria de se movimentar mais e se sente livre ao andar de bicicleta. Desde que de dia e jamais sozinha. Patricia vê a bicicleta como uma bela maneira de viver a cidade e fazer seus rolês sem perder muito tempo, mas na sua memória sempre ecoam os comentários que os caras fazem sobre o seu corpo (ou sobre o corpo das outras meninas). Julia sai tarde do trabalho, odeia pegar o madrugadão, sente medo no ponto de ônibus e amaria chegar em casa suada após o pedal.
Eu inventei a Lucia, a Patricia e a Julia, mas elas não são completamente fictícias. Elas são eu e tantas outras mulheres por aí. Se milhares de motivos afastam as pessoas de usar a bicicleta como esporte, transporte ou lazer, outros dois milhões de motivos se somam a estes quando você é mulher. Sair de casa sozinha, de noite ou frequentar grupos com muitos homens, acabam sendo atos de coragem. O resultado disso? Poucas mulheres nas ruas. Muitas vezes, nenhuma.
Se nos grupos de pedal o ambiente muitas vezes é hostil, pedalar pela rua sozinha pode ser ainda pior. Tenho pensado nisso intensamente. Cada dia escuto relatos semelhantes. Se não podemos – ainda – mudar esse cenário, então por que não nos unimos e vamos juntas?
A ideia é simples, mas pode ser revolucionária. O melhor: não precisa de muito. Pode ser um grupo no Facebook que una as mulheres, uma oficina que ensine mecânica por uma ciclista mais experiente, uma amiga que junte com uma conhecida e façam o trajeto juntas. Então, da próxima vez que você desistir de pedalar porque está com medo, lembre-se: certamente, há outras tantas mulheres querendo o mesmo que eu e você.
/// Para saber mais
- Movimento Vamos Juntas? dá dicas de como se juntar a outras mulheres em uma situação de risco;
- Grupo Pedaleiras em Floripa criado para juntar as mulheres que pedalam.
/// Se você souber de algum grupo semelhante, me avisa para começarmos a fazer uma lista de soluções. Pode ser?
Foto Vinícius Leyser da Rosa.