

Tive um momento grandes-ideias-que-salvaram-a-humanidade e convidei uma amiga: ‘Deia, o que você acha da gente subir o Morro da Cruz durante 30 dias?’ e, antes que eu começasse a explicar o porquê disto, ela topou. Eu nunca usei a bicicleta como esporte. Pelo contrário, gosto de pedalar porque me exercito sem que meu corpo perceba, o que funciona bem pra mim. Porém, eu que pedalava todos os dias para ir trabalhar, tô há um ano sendo freela em casa, então aqueles quase 1.000 km que fazia todos os meses viraram algo muito próximo de zero.
Próximo de zero, porque praticamente toda vez que saio de casa, saio de bike. Uma das saídas que faço semanalmente, é participar do Nesse Morro Eu Não Morro, um pedal que meu querido criou para estimular pessoas a pedalarem até o mirante do temido morro, mesmo que você não seja um ‘biker’. Toda quarta eu reclamava, saía de casa meio contrariada e voltava a 5000 volts tocando o terror. A sensação de disposição e bem estar se prolongava por mais um ou dois dias, então concluí ‘deve ser foda fazer isto todos os dias’.

Convidei a Deia e ela topou. Combinamos então subir aquele morro até o dia 15/03 – quando aconteceria uma prova de subida do morro da cruz (feita por atletas e não duas abobadas). Começamos numa sexta-feira. Treze. De Carnaval. Além de tudo, o tempo estava feio. Mas fomos, porque somos lindas.
O Morro da Cruz é uma subida sempre respeitável, mesmo pelos mais bem condicionados e experientes. São 285m de elevação em pouco mais de 2km. De lá de cima, dá para ver boa parte de Florianópolis e um pouco das cidades próximas. É lá que ficam as emissoras de TV. Era para ser um baita ponto turístico, mas sofre com falta de infraestrutura e lendas urbanas. O nosso trajeto de sair de casa, ir até o morro, subir, descer e voltar dá um pouco menos de 20km – ou seja: um bom exercício físico. Era para ser como se matricular na academia.
Eu já tinha subido lá umas tantas vezes, mas a Deia recém conhecia o lugar. Isto prova que mesmo os iniciantes podem fazer isto com sucesso. O objetivo não era fazer um bom tempo ou começar uma dieta paleolítica. O objetivo era subir o morro várias vezes, com devidos intervalos, durante 30 dias e só. Queríamos ver como nossos corpos reagiam a esta única mudança – o significava manter as cervejas e polentas fritas a salvo. Já aviso que o experimento foi qualquer coisa, menos científico.
1ª Semana

Das primeiras subidas extremamente lentas até a outra sexta-feira nossos corpos responderam bem. Chegamos no final da primeira semana ainda moídas, mas sem a certeza que morreríamos do coração. As pernas ganharam um instant photoshop, que ficaram mais lisinhas e durinhas. Era engraçado porque eu e a Deia sentíamos as mesmíssimas coisas com o passar do experimento. Já dava para sentir mais disposição na rotina e uma bunda mais bonita.
2ª Semana
Sabe aquele bacon lateral criado pelo combo alça de calcinha + marca da calça? Eu chamo aquilo de handle, mas não sei o nome oficial. Então, esta banha horrorosa começou a diminuir sensivelmente. Namorado pode comprovar (ele falou isto voluntariamente, sem eu nem perguntar). Falando em namorado, a minha disposição maior para a vida, se transformou em disposição para t-u-d-o. Tudo mesmo. Uh, la, la!

Na segunda semana começamos a ficar venenosas, porque o corpo já respondia melhor a subida e estávamos meio viciadinhas no trajeto. Eu tava eufórica e não parava de atormentar toda e qualquer pessoa com o ‘já te contei que tô subindo o morro da cruz todos os dias?’
Daí o que tava bom ficou maravilhoso porque
~~~ pausa para falar da Ximia ~~~

Eu enchei tanto o saco falando do projeto do morro, que isto chegou aos ouvidos da Renata, a linda da Ximia Doces Artesanais e ela começou a patrocinar o nosso projeto com carregamentos de doces MARAVILHOSOS. Começou com palha italiana, depois teve cookies, bolo funcional de banana com amendoim, mais cookies, brigadeiros e casadinhos e os indescritíveis pães de mel. Era tão incrível, que tiveram dias que chegamos lá em cima e atacamos os doces, deixando vocês sem registro. Não dá pra confiar em mim quando o assunto é doce. Sorry.

3ª Semana

Na terceira semana eu tava me achando a montanhista do Tour de France. Fui fazer um exame de sangue e logo depois subi o morro com o Vini (a Deia estava viajando). Este dia tava cansada, cheguei me jogando no chão e desejando atacar logo o bolo da Ximia quando fui picada por um inseto. Não vi qual era, mas certamente era um alien, porque me deixou avariadíssima. Fui ao médico, me deram antibiótico (!) e eu fiquei zoada por vários dias, mas como tava muito empolgada, continuei subindo o morro. Minha energia começou a ficar menor, mas o bronze matinal das pernas estava lindo.

4ª Semana

No início, tínhamos planejado descansar aos sábados e domingos e subir o morro de segunda à sexta. Tentaram nos avisar que era um exagero e que deveríamos ir com mais calma, mas eu fui teimosa e a Deia, parceira. Na quarta semana entendi o porquê dos conselhos: estava exausta. Meu ciático, que já é um grande drama há muitos anos, começou a gritar e a picada do alien tinha me pedido um descanso ao corpo – que não dei. A quarta semana foi diferente de todas as outras, porque ao invés de me sentir com mais energia e feliz, estava cansada e com dores. A Deia ficou bem, mas eu estava um trapo.

Resultados
Apesar da quarta semana não ter sido um moranguinho, foi incrível subir o morro todos estes dias. Primeiro porque dá um senso de realização delicioso, segundo porque as pernas, a pele e a cara ganham uma aparência de bem-estar. Mas não é só isto: andar de bicicleta é realmente incrível. Além de ganhar um baita condicionamento em poucos dias, me senti muito melhor. Se perdi um milhão de quilos? Não! Mas considerando que comi muitos doces, bebi muita cerveja e devorei inúmeras porções e lanches nestes últimos dias, acho que o saldo foi positivíssimo. Saí dos 30 dias com 1kg a menos e muita disposição a mais. Descobri que pedalar para ‘treinar’ pode ser bem divertido. A Deia também saiu mais magra e feliz.

É claro que ficar subindo um bom morro demanda de um certo empenho, mas pegar a bicicleta para ir ao trabalho, a padaria ou seja lá onde for pode te dar estes mesmos benefícios – talvez não seja tão rápido, mas isto está ao alcance de todos. Era isto que queria provar e com toda certeza consegui.
Agradecimentos

Não poderia deixar de agradecer a querida Deia, que mal começou a pedalar e já está tão gabaritada. Espero que a história dela inspire todos que querem começar mas ficam inventando desculpas. Parceirinha, você é ótima. Sinto que criei um ‘monstro‘.
Também queria agradecer ao Vini, fiel fotógrafo, que levantou cedo vários dias para registrar as nossas aventuras, me ajudou como técnico e me deu ainda mais repertório para subir cada vez melhor. Te amo.
A Renata e ao Fábio da Ximia, que deram o melhor incentivo do mundo, com doces de excelente qualidade e gostosura infinita. É lindo ver alguém incentivando a gente a fazer algo e vocês fizeram isto com muito sucesso.
A todos que foram nossos companheiros nesta aventura. Aos queridos que sobem o morro nas quartas e decidiram nos acompanhar em diversos dias. Vocês foram um baita incentivo. Peço desculpas a minha euforia dos últimos dias, mas eu não me aguentava dentro de mim hahaha.
Quer subir o Morro da Cruz também?

O nosso projeto chegou ao fim, mas todas as quartas o grupo Nesse Morro Eu Não Morro se junta para enfrentar esta deliciosa subida. Eu sou a responsável por fechar o grupo, então se você não tem muita experiência (ou acha que não tem fôlego pra isto), fique tranquilo: estarei ali do teu lado, falando um monte de bobiça e te incentivando. E ah, este não é um grupo de pedal qualquer, porque lá em cima a gente pede pizza (hell yeah) e fica admirando a cidade. É lindo. Participe 🙂
Todas as fotos são do Vinícius Leyser da Rosa
Eu estava ansiosa por este post, pra saber que projeto era esse. Bravo, meninas.
Quarta-feira é um dia bem ruim pra mim, mas vou ter que dar um jeito de ir com vocês pelo menos uma vez.
Já têm ideia de qual será o próximo projeto? 😉
Beijão.
Daise, qualquer coisa a gente combina em outro dia da semana, mas não deixa de fazer isto, é maravilhoso! Tenho certeza que ficarás muito feliz em chegar lá em cima o/ Acho que o próximo será ‘treinar’ para o Audax 200. Tirei esta semana para descansar, porque meu ciático tá quase me matando, mas semana que vem já começamos alguma nova aventura. Contarei aqui, com certeza. Beijos beijos
Muito bom, Naiara!
Obrigada, Peters, querido! :))))))))))
Ah, por isso te encontrei alguns dias de manhã pela trindade 🙂 Você é muito doida, mas muito inspiradora também! Quem sabe um dia eu encaro essa morreba? Beijo!
Sim, era a gente voltando do Morro <3 Tu nunca subiu lá? MENTIRA! Tens que ir na próxima quarta. A minha prima, que nem pedalava, subiu no domingo pela primeira vez por causa do passeio, amou e já foi na quarta de novo. Olha que ela usou uma bike bem pesada e com poucas marchas. Se tu tem muito medo, a gente combina de sair um pouco antes do grupo, pra chegares lá em cima junto com todo mundo e comer uma pizza delícia. Sério, não irás fugir disto. Beijos!
Muito bom, adorei a parte da pizza, kkkkk. Parabéns pela iniciativa e pelo texto também, muito divertido de ler. Estou de mudança pra Floripa e espero subir muitas vezes esse temido morro..
Olá, Gabriele 🙂 Obrigada pelos elogios. É bem divertido ir lá, pedir pizza para ser entregue no mirante e curtir a vista linda com a galera que subiu também. Você será muito bem-vinda ao Nesse Morro Eu Não Morro, te espero o/ Beijos
Sensacional! Que atividade mais interessante que você e a Deia encararam! Parabéns! Subi pela primeira vez o Morro da Cruz no último domingo e gostei bastante da experiência. Tive dificuldades que vão ser melhoradas nas próximas oportunidades. No momento, não posso participar do Nesse Morro Eu Não Morro por causa dos estudos. Mas acho que em junho já poderei participar. Enquanto isso, vou sonhando com a quarta-feira no morro. É sonho, mas também meta a ser cumprida neste ano. Um grande abraço da Lu!
Lu, que bom que tu gostou. E ó, o morro é assim mesmo, é um eterno aprendizado. A gente sempre pode melhorar mais um pouquinho. EU já vou lá há tempos e continuo aprendendo com cada subida. Junho logo chega e aí vais amar subir lá com frequência. Obrigada por comentar. Beijos, Naiara.
Fantástico! Gosto muito das tuas postagens, Naiara, mas esta foi particularmente inspiradora. Obrigada!
Karla, que alegria te ver aqui 🙂 Que bom que você gostou. Nossa, falando nisto, a tua é um modelo lindão, né? É uma Nirve? Beijos beijos
Sim, é uma Nirve, lindinha lindinha. Pena que nem ela nem eu tenhamos condições para uma façanha como o Morro da Cruz… Beijos!