

Quando eu comecei a andar de bicicleta, um mundo de coisas novas surgiram na minha cabeça. Foram tantas novidades, que temi me apaixonar demais pelo assunto e, de repente, me tornar uma ciclista.
Foi então que me disseram que, já que estava andando por vários cantos da cidade, eu deveria começar a usar um capacete. Pela-mor-de-deus, um capacete? Seria o fim. Eu me tornaria de vez uma ciclista.
Mas aí me explicaram “o porquê” (entre aspas, porque é bem controverso!) de um capacete eu fui convencida: melhor ser alguém de capacete parecendo uma ciclista do que colocar minha segurança em risco. Comecei a usar o artefato mais feio da minha existência e torcia para não encontrar nenhum conhecido na rua.
Eu tinha pânico do título. Eu não queria nada da vida. Não queria me tornar nada. Só queria chegar rápido na faculdade e, por acaso, seria de bicicleta. Ciclistas, para mim, seriam seres chatos, preocupados com a performance e usando shorts de lycra. Pra mim, era o mesmo que o terror-visual: capacete, lycra e vestimentas com patrocínios, cores e marcas feias. Além do que, quando eu encontrava com um destes, na ciclovia ou na rua, já me desesperava, ia para o cantinho, para dar espaço para os velozes seres passarem logo por mim. Eu sabia que era lenta e desajeitada e não queria nem atrapalhar e nem brigar com ninguém.
O tempo passou, este debate interno foi sendo esquecido e eu conheci gente que pedalava, mas não se encaixavam no perfil de ciclista que eu tinha pré estabelecido. Foi um alívio saber que existia vida além da lycra e eu pude seguir com meu capacete rayo-laser.
Mas, afinal, qual é o problema de ser ciclista? Hoje fica estranho entender, porque já pedalo e já sou ‘a-amiga-ciclista’ de muita gente e pra mim, tanto faz ser chamada assim ou de qualquer outra forma. Mas naquela época, seria o mesmo que jogar a minha personalidade no lixo. Eu preferia ser vista como uma bêbada rebelde, do que achassem que eu estava praticando algum esporte.
A verdade é que os ciclistas não possuem, necessariamente, uma fama muito legal. A palavra tem um peso esportivo que não condiz com todos. É mais um rótulo que limita e desencoraja. Tanto que em inglês, muitos ativistas preferem usar a expressão bicyclist. Para eles a palavra cyclist tem uma conotação negativa e faz com que quem não ande de bicicleta, acredite que para ser um ciclista você precisa ter uma “identidade” especial ou fazer parte de uma subcultura.
Então, não se apegue com o título de ciclista. Não se importe em caber ou não neste rótulo – ou em qualquer outro. Diga que você usa a bicicleta, que você é uma pessoa de bike, diga qualquer coisa. Foi o que eu fiz e funcionou super bem.
No fim das contas, me tornei uma ciclista famosa por estar sempre de vestido e saia ou por pedalar distâncias maiores de tênis e lencinho na cabeça. Aprendi também a escolher peças que não comprometessem o meu estilo e que fossem também boas para pedalar. Sempre lembro as pessoas que a bicicleta não precisa (e nem deve) limitar o seu vestuário. Então, se um de seus problemas é não parecer um triatleta com óculos de lentes laranjas e capacetes vindos de um mundo renderizado-paralelo, pode arranjar outra desculpar: pedalar pode e deve sim, ser um ato de muito estilo.
P.S.: Se você não quiser usar capacete, está tudo bem. Não é obrigado por lei e este é um debate bastante controverso – e é, sem dúvidas, assunto para ser discutido mais além.
Ah, eu preferia pedalar sem usar o capacete. Mas uso o capacete por segurança. Como você disse, não é um item obrigatório pela legislação do trânsito. Quase todos usam o capacete, mas poucos instalam um visor na bike e isso é um item obrigatório.
Eu também acho bem desconfortável e pouco estiloso, Lu, mas também uso quase sempre. Sobre o visor, muitos não funcionam e os bons mesmo são difíceis de achar e costumam custar caro. Ainda temos muito para evoluir neste sentido 🙂
Naiara, adoro o pedal glamour e a discussão sobre bicicletas como você já sabe <3
Eu superapoio o uso do capacete no Brasil, acho que não há alternativa na nossa querida ilha especialmente. Pois não basta o modo como as pessoas motorizadas se locomovam, o espírito é sempre o de chegar o mais rápido sem ter em consideração a segurança própria ou daqueles que os cercam.
Maaaas, li esse post aqui há um ano já, e confesso que parece fazer sentido o que o autor fala: http://www.howiechong.com/journal/2014/2/bike-helmets#.VOOUhVPF9up
Assim como a minha experiência como ciclista na Alemanha e na Holanda sempre foi extremamente positiva e sem capacete.
Olá, Jô 🙂 Muito feliz em ter um comentário teu no Pedal Glamour. Então, a questão do capacete no Brasil (ou em qualquer outro lugar) é muito mais ampla do que parece. O problema da ‘obrigatoriedade’ – seja ela legal ou social – é que ela afasta os ciclistas das ruas e isto é péssimo, porque quando se aumenta o número de ciclistas, menor o número de acidentes. Logo, obrigar o uso do capacete, faz com que menos pessoas pedalem e isto faz com que mais ‘acidentes’ ocorram. O segundo fator é que a eficiência do capacete é extremamente questionável – e em muitos casos, ele pode até agravar o estado do ciclista. O terceiro ponto é que os motoristas tendem a ser mais imprudentes com ciclista que usam capacetes, seja por supor uma maior habilidade dele ou por ter menos medo de causar algum dano severo. Outra coisa a ser considerada, é que o capacete dá a bicicleta uma dimensão de perigo muito maior do que a real, o que volta lá para o primeiro ponto: faz com que menos pessoas pedalem. Cada coisas destas possui estudos e comprovações, mas eu vou deixar isto para um post próximo, porque este assunto é bem importante e precisa ser debatido. Só deixo claro que, apesar de eu comumente usar capacete, não acredito que o incentivo dele traga reais ganhos para a segurança dos ciclistas, pelo contrário, trazem sim uma falsa sensação de ‘proteção’ para os motoristas imprudentes. Se a questão do uso do capacete for para proteger o ciclista de eventuais acidentes com os motorizados, esta certamente é a última ação para se tomar. Beijos, querida! Me conta das tuas peripécias pelo mundo ;***********
O que mais gosto no Pedal Glamour é o exemplo e estímulo à forma personalizada de como se pode e deve exercer o ciclismo, o biciclismo, a pedalação, a bicicletice ou seja lá como se deva dizer por uma das 9.498 regras do blá, blá, blá. Acho o máximo todos que rasgam o livro das 9.498 regras. Talvez a minha razão para a utilização do capacete seja um tanto quanto incomum, por isso a compartilho: proteção contra o sol. O recurso de segurança mais importante da minha bicicleta é tido como uma coisa que fica na cabeça, mas, assim como o capacete, há controvérsias; Também começa com a letra “c” e chama-se consciência. Para o tipo de uso que faço da bicicleta, o segundo item em importância é o retrovisor, assim o que utilizo é muito bom, tanto do lado esquerdo quanto do direito. Eles foram baratos, mas não me recordo o valor. Não levo todas as ferramentas que preciso para a auto suficiência e não sei consertar a bicicleta. Faço questão de precisar da ajuda das pessoas e de conviver, muito mais do que ter controle sobre números (quilômetros, horas, metros de altitude e Km/h). Na rodovia, tenho a impressão de que viajantes de bicicleta, que evitam atrapalhar os veículos rápidos e pedalam em segurança, são muito respeitados, assim acorre comigo. Por outro lado, tenho a certeza de que os que insistem em pedalar no pavimento liso, portanto na faixa do veículo rápido ao invés do acostamento ou mesmo fora dele, enfurecem os motoristas, aumentam o risco de acidentes e pagam o preço. Aos ciclochatos, desejo que eles peguem uma barra circular, uma enxada e uma caramanhola de cinco litros. Aos que pedalam por pedalar da forma como for possível e desejável o meu abraço.
Julio, adorei 🙂 Muito obrigada pelas palavras :)))) Morri rindo com esta parte “Aos ciclochatos, desejo que eles peguem uma barra circular, uma enxada e uma caramanhola de cinco litros.” Acho que vou adicionar ao meu repertório. Vamos nos falando! Beijos!